quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

A Evolução do GTA

11 anos de inovações e violência gratuita.
O mundo dos games nem sempre teve tantos anti-heróis com comportamentos subversivos quanto tem hoje. Em uma época em que os tradicionais heróis clássicos abocanhavam uma imensa fatia do universo de jogos, certos pioneiros começavam a chutar o balde, trazendo no lugar de musculosos com sunga por cima da calça, alguns espertinhos que simplesmente queriam se dar bem na vida; a forma como isso seria alcançado nem sempre estava dentro dos ditames da lei e da ordem.
Apesar da simplicidade, GTA 1 já trazia ares de
No início...

Em meio aos anos 90, um certo Dave Jones criaria o jogo pioneiro que daria início a uma verdadeira revolução. Em 1997, a softhouse escocesa Rockstar North, em parceria com a inglesa Rockstar Leeds, desenvolveria o primeiro Grand Theft Auto, que ganharia versões para PC (DOS e Microsoft Windows) e PlayStation.

Contando ainda com um enredo bastante cru e gráficos que, honestamente, forçavam a capacidade de abstração dos jogadores, GTA introduziu alguns dos elementos que serviram para fomentar o exponencial crescimento de popularidade da série. Entre as inovações mais consagradas trazidas, pode-se incluir a relativa liberdade dada ao jogador para explorar uma das três cidades disponíveis (Liberty City, Vice City e San Andreas) bem como a possibilidade de se traçar um curso não-linear através das missões do jogo (algo praticamente inédito até então; ao menos nessas proporções). Além disso, a possibilidade de se “pegar” qualquer carro que aparecesse pela frente — com uma possibilidade bem pequena de sofrer retaliação — era, no mínimo, bastante atraente.

GTA 2 trouxe um sensível melhoria tanto na trama quanto nos gráficos.O primeiro GTA seria seguido por duas expansões — ambas ambientadas em Londres.

Grand Theft Auto 2 desembarcaria em 1999 com versões para PC (somente para Windows dessa vez), PlayStation e Dreamcast (que, não se pode negar, no seu curto tempo de vida ganhou alguns bons títulos). As melhorias ainda não eram exatamente revolucionárias, porém, a clássica perspectiva top-down ganharia muito em qualidade e detalhes. GTA 2 também trazia a possibilidade de se executar “trabalhos” para diversas organizações criminais. Também é o único jogo da série que não foi contextualizado em alguma época e/ou lugar (a cidade se chamava simplesmente “Anywhere City”).


Um salto gigantesco


Mesmo os jogadores mais saudosistas não vão poder negar: foi em Grand Theft Auto III que a série experimentou a maior de todas as alavancadas. Pela primeira vez era possível enxergar o horizonte em GTA; isso literalmente, já que GTA III foi o primeiro jogo da série a trazer um ambiente completamente 3D — para delírio dos jogadores acostumados a ver pouco mais do que a cabeça de um homenzinho minúsculo (é claro que o jogo ainda trazia essa possibilidade). Dessa vez, tanto o ambiente quanto os carros traziam um atrativo muito maior. Modelos bem detalhados que parodiavam grandes marcas podiam ser “subtraídos” em praticamente qualquer semáforo de uma topografia agora bem mais complexa.

A evolução contida em GTA III também pôde ser percebida no enredo. Ao contrário do background um tanto lacônico/pragmático encontrado nos títulos anteriores, GTA III trazia uma trama bem mais elaborada e envolvente, com vários acontecimentos que alimentavam os teóricos da conspiração de plantão (traições, falsos amigos, etc.); algo que se tornou bem recorrente na série.

GTA III foi o divisor de águas da série. GTA III se passa em Liberty City, uma espécie de Nova Iorque alternativa, por volta de 2001. Alguns poucos contatos com o ambiente trazem imediatamente à memória filmes como “Scarface”, “Os Bons Companheiros” (Goodfellas) e, é claro, “O Poderoso Chefão” (The Godfather). O negócio era mesmo seguir até o topo do mundo do crime da maneira mais maquiavélica possível.

Seja porque a violência em GTA III se tornou mais evidente graças à melhoria nos gráficos ou porque, de fato, as coisas estavam já mais explícitas, o fato é que GTA III também representa o começo da perseguição à série por parte da censura. Entretanto, o que motivou por fim um levante puritano foi a violência explícita contra policiais e também o fato de os transeuntes serem tratados como algo menos do que sacos de batatas (é inegável que o jogo realmente favorecia essa visão, pela facilidade com que os pobres pedestres morriam). Fato é que, após GTA III, a série virou sinônimo de violência nos jogos.

Miami Vice City

Após o estrondoso sucesso conseguido com GTA III, a Rockstar Games emplacaria mais uma vez, agora com Grand Theft Auto Vice City. Vice City trazia um ambiente que mesclava uma temática dos anos 80 com dúzias de estereótipos dos mais reconhecíveis; o jogo todo transpirava a série Miami Vice. Novamente, detalhes do filme Scarface podiam ser percebidos a todo o momento (até mais do que acontecia em GTA III), em especial na missão final do jogo, que trazia um tiroteio na mansão do protagonista.

Vice City e seu estilo carregado de anos 80. Porém, não foi somente na temática que Vice City inovou. O jogo também foi o primeiro da série a trazer veículos voadores — um helicóptero e um hidroplano meio desajeitado. Além disso, em Vice City o protagonista ganha pela primeira vez uma voz (em GTA III ele se limitava a concordar com a cabeça) e um nome: Tommy Vercetti (por incrível que pareça, há quem prefira o lacônico sujeito do terceiro jogo).

Assim como aconteceu no terceiro jogo, Vice City também teve sua boa cota de controvérsia. Além dos elementos naturalmente perseguidos pela censura convencional, a Rockstar ainda teve que encarar grupos anti-difamação haitianos e cubanos (quem jogou deve imaginar o porquê).

O ápice... até agora

GTA III representou uma revolução em termos de jogabilidade. Vice City trouxe uma atmosfera envolvente e acrescentou alguns ótimos elementos. Porém, foi mesmo em San Andreas que a série encontrou seu máximo desenvolvimento (pelo menos até agora). Vários dos bons elementos introduzidos pelos seus dois antecessores encontraram uma expressão bastante intensificada em San Andreas.

San Andreas trouxe um dinamismo sem precedentes na série. Embalado dessa vez por um clima suburbano de luta entre gangues, GTA San Andreas acompanha a história de um recém-chegado à cidade de Los Santos. Além de buscar firmar a influência da sua gangue na cena local, o protagonista CJ ainda deverá subir através dos estratos do mundo do crime organizado ganhando nome e também, é claro, muito dinheiro.

Como um acréscimo aos veículos voadores de Vice City, San Andreas acrescenta uma ampla gama de possibilidades, incluindo um jato, um imenso avião de passageiros e até mesmo um Jet Pack. As boas possibilidades para Freestyle (aquele jogo descompromissado cheio de missões paralelas) da série também vieram com vários acréscimos, como o fato de se poder namorar (com várias ao mesmo tempo, inclusive), malhar na academia ou mesmo apostar em cavalos. De forma geral, em San Andreas pode-se perceber que a lei máxima é: personalize tudo o que for possível. Além disso, o universo de jogo em San Andreas é relativamente muito maior do que nos seus antecessores, trazendo além de três grandes cidades uma vasta área rural.

Algum tempo após o lançamento de San Andreas, a Rockstar ainda presentearia os donos de PSP com duas versões mais enxutas do jogo: Liberty City Stories e Vice City Stories. Ambos os jogos, que contavam histórias paralelas às dos seus irmãos maiores, ganharam também versões para PS2.

Grand Theft Auto IV

O que era bom pode ficar ainda melhor? A julgar pelo trabalho da Rockstar até agora, pode sim. E o que se pode esperar de GTA IV? De forma geral, a idéia por trás do projeto de GTA IV foi bastante clara: dar um realismo sem precedentes à série. É claro que se pode esperar também uma boa dose de texturas bem decentes (graças ao uso da reverenciada engine RAGE), porém, a idéia central da produção parece estar mais ligada a cercar o protagonista com todo tipo de “burocracia" para conseguir uma ou outra coisa (não espere, portanto, roubar um carro apenas abrindo a porta).

Outra ótima característica da série também terá muito mais relevância em GTA IV, que é, grosso modo, a possibilidade de se fazer as coisas como “der na telha”. Enquanto que as decisões do jogador anteriormente se limitavam a apenas escolher as missões a serem executada e a forma como seriam feitas, agora a realidade do jogo promete ser bem menos... condescendente. Quer dizer que, resumidamente, se a pessoa errada for provocada, o que se pode esperar é uma retaliação à altura. Também o efetivo policial da nova Liberty City (dessa vez muito mais "inspirada" em Nova Iorque) promete abandonar o antigo Q.I. de alcachofra, empenhando-se agora bem mais nas perseguições.





Uma coisa se pode dizer sem o menor risco de equívoco: o mundo dos games pós GTA é sensivelmente diferente. Poucas franquias conseguiram um impacto tão grande e por motivos tão variados. Desde os mais puritanos em sua perseguição implacável até jogadores tentando escapar do velho esquema "fase-chefe-fase-chefe"; a revolução é mesmo incontestável. Além do que, a série é uma das poucas que conseguiu realmente melhorar através dos anos, ao contrário daquelas seqüências caça-níqueis que muito se vê por aí.

O fato é que Grand Theft Auto se transformou aos poucos em uma espécie de referência para muitos quesitos de qualidade. Além disso, discutir sobre a “longevidade” de um jogo faz agora muito mais sentido.

Resta agora aguardar por mais bons ventos vindos da Rockstar Games.



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